uma quase oficina de cianotipia

negativos impressos em folha de retroprojetor

Participei de uma oficina de cianotipia ministrada pela professora de fotografia da faculdade, foram 2 dias e foi a primeira vez que vi uma professora do curso ao vivo. Cianotipia é um processo de impressão monocromática e manual que ocorre por emulsão e exposição a luz ultravioleta.  A emulsão, ou seja, o composto químico  é uma solução de citrato férrico amoniacal de cristais verdes e ferricianeto de potássio, ambos diluidos em água, que quando misturados em partes iguais apresentam um tom amarelo-esverdeado meio fluorescente. Essa mistura reage com a luz ultravioleta  possibilitando a impressão de negativos (como os acima) ou objetos que estiverem entre eles (solução e luz). 

Pulando a parte teórica da coisa: na oficina os quimicos já estavam prontos e eles são facilmente encontrados na internet como kit de cianotipia. São dois vidros, um com cada quimico já diluido em água que é só misturar igualmente, conforme a quantidade que pretende usar (sempre indicado preparar a emulsão em pequenas quantidades porque jogar fora esta fora de opção!) num ambiente com pouca ou nenhuma luz, passar com um pincel largo em papéis ou tecidos da tua preferencia. Os papéis mais tradicionais pra isso são com fibras naturais, para aquarela 300g. Em seguida os papéis devem ser secos, nós utilizamos um secador de cabelos. 

Depois da emulsão pode se fazer duas coisas: 
1. Guardar os papéis emulsionados em um envelope ou pasta pretos, onde a luz não irá interfir, para usar outra hora ou
2. Continuar o processo escolhendo o que será impresso! Pode usar qualquer coisa para montar sua composição, só precisa ter em mente que tudo que estiver obstruindo a luz ficará branco e o que estiver exposto ficará ciano/azul. 

Eu fiz experimentos com plantas e com negativos que imprimi em papel para retroprojetor em casa mesmo. Esses papéis são transparentes e próprios para impressão em jato de tinta, ai só precisa editar a foto que tu quiser como um negativo e imprimir do lado correto!!! Caso imprima do lado errado a folha não irá absorver a tinta, nesse caso é só limpar com álcool e papel toalha e imprimir do lado certo.  

Com a composição pronta é preciso montar um sanduiche que siga essa ordem de montagem: 
1. Papel com a emulsão
2. Composição
3. Uma placa de vidro, que seja ao minimo  do tamanho do papel para deixar tudo no lugar e tudo beeeem preso porque se o objeto não estiver bem perto a imagem não ficará nitida na impressão. 

Agora só expor no sol ou na luz negra. 15 minutos de exposição em uma luz forte já são o suficiente para um resultado legal. Esse processo todo é bem experimental então nada tem uma super regra e tudo que falei pode ser modificado ou feito de outra forma conforme o teu objetivo.

antes da lavagemdepois da lavagem


Enquanto está exposta a luz a emulsão muda de cor, indo do amarelo-esverdeado para um verde escuro meio musgo e por fim para um tom mais cinza com detalhes em azul, como na foto a direita. Essa foi a primeira cianotipia que fiz, usei umas plantas que tinha no jardim da casa onde aconteceu a oficina. Quando começa a ficar nessa cor quer dizer que já está bom para ir para a próxima etapa: a lavagem. Só colocar a folha em um recipiente com água, nos usamos aquelas bacias de carne que tem um formato meio caixinha de areia de gato. Dependendo do tamanho da folha é reciso trocar a água da bacia algumas vezes. A lavagem retira a goma deixada pela emulsão e revela o resultado final da impressão. Por último é só secar a folha com o secador ou deixar secando naturalmente. 


Essa da esquerda foi a primeira que fiz sozinha, com umas folhas emulsionadas que trouxe pra casa.Não tinha uma placa de vidro então grudei as folhas todas no vidro da janela, onde tinha bastante sol e deixei por uns 40 minutos. A imagem apareceu mas não ficou perfeita. A da direita fiz no último dia da oficina, depois que mostrei a anterior para professora e ela disse tudo que tinha acontecido. Quanto mais tempo exposta a imagem mais escuro fica o azul, e assim o contraste não fica tão bom. Além disso teve o desfoque causado porque o negativo e a folha não ficam bem coladinhos no vidro da janela, sempre fica um espaço. Juntando tudo isso acabei perdendo muitos detalhes da imagem. 

Na última aula também descobri que tem umas misturas que servem como intensificador ou clareador, para passarem na folha depois da revelação. A imagem da esquerda estava ainda mais escura antes, nessa foto eu já tinha passado o clareador e lavado ela de novo. O clareador é feito com um pouco de vinagre branco de álcool misturado em água e o intensificador com água oxigenada 10 volumes também misturada em água. Eles agem como um editor de fotos totalmente manual e analogico. 

monotipia resultante
negativo impresso em folha de retroprojetor

Nessas últimas fiz alguns experimentos. A primeira (superior direita) burrifei água enquanto passava a emulsão no papel, deixei absorver um pouco e depois sequei com o secador. A debaixo dela também fiz sem vidro, porém coloquei numa caixa de luz negra que minha mãe me falou que tinha na loja, ela é pequena e cabe no máximo folha A5. A do lado foi das que deixei muito tempo exposta e na janela, não da pra ver nada dopsfkdspofk

FIM.

4 comentários

  1. Que interessante esse processo! Mas eu amei mesmo foi o tom de azul que fica no final. Depois que me toquei pro detalhe da palavra (ciano...🤡).

    Gostei do seu experimento borrifando agua, dá um aspecto ainda mais etéreo pra imagem, fique imaginando uma zine feita com essa técnica (aliás lembrei de um mangá, sem não me engano se chama indigo alguma coisa, que é desenhado em azul...).

    Muito legal ver seu processo! Até mais!

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    1. é muito lindo mesmo! e ele muda conforme a quantidade de produto e tempo de exposição no sol. sim, esse efeito deixa tudo nebuloso e tbm notei que é varios efeitos nessa tecnica dão essa sensação. muito doido foiksdfpodsk legaal, nunca vi um manga que não fosse pb.

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  2. Haha que legal no começo pensei que fosse negativos de fotos. É tão bom ter aulas de campo onde se pode por a mão na massa hihi, aprendemos muito mais.

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  3. Uma das coisas que eu mais gosto nos meus vai e voltas da blogosfera, é ver que seu broguinho está sempre aqui. Com mais ou menos intervalo entre as postagens, mas sempre aqui. E que bom, porque teu conteúdo é tão único e inspirador, sou apaixonada.

    Anyway, aula presencial é outra coisa, né? Eu me formei na pandemia e foi uma porra. Que bom que tu tá podendo sentir a experiência real. Eu lendo os nomes técnicos das coisas e assentindo tipo, uhum, entendi tudo. Mas adorei a ideia do processo. Hoje, quando tudo está a um clique de distância, uma coisa feita a mão, com cuidado, que leva tempo, é realmente tudo o que precisamos.

    A que você fez depois da orientação da professora foi a minha favorita. Uma vibe meio clipe da Lana Del Rey asijasoij bem linda. A do gatinho foi tipo, aplicar um filtro do insta, só que na vida real? asoijajisjasoi A que você borrifou água parece aquelas cenas de memória de personagens de filmes ou jogos, incrível. Dá para ver na tua descrição como amou experimentar esta técnica, é bonito de ver. :)

    jardim silencioso

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