eu deveria

comprar uma câmera
fazer análise
correr
passar fio dental
me atravessar na frente dos carros da avenida perimetral
prestar atenção em tudo que minha mãe fala
arrumar a cama
experimentar maconha
lavar as roupas delicadas a mão
não comer doce
eu deveria
usar salto
falar de amor e sexo
saber a hora que nasci
concordar com meu pai
fazer massagem
guardar dinheiro
comprar um guarda-roupa
dar antipulgas a gata
tirar carta de habilitação
ser questionada
ter a moral pura
devolver a carteira
comprar leite
ter um sobretudo
usar sutiã
esperar a minha vez
apostar e ganhar
desentupir a pia do banheiro
falar bem em público
arrumar a cama
não chegar atrasada
ter sempre um gloss a mão
ler um clássico
me bronzear
fazer cirurgia para não precisar mais usar óculos
passar uma semana trancada numa sala sendo observada por estranhos
chorar quando triste
sair sem pagar
ir a um encontro a cegas
viajar no feriado
viajar sozinha
andar descalça
me perder no mato
fazer aula de francês
dar dinheiro ao pedinte
andar de bicicleta na orla
dar duas voltas na tranca da porta
dormir sem calcinha
andar na montanha-russa invertida
fazer uma visita surpresa
ficar um dia sem falar
visitar o túmulo do meu avô
passar o fim do ano na praia
me afogar no mar
saber o que é prolixo
ir a missa
rezar o pai nosso
ser um anjo
só falar a verdade
saber descascar laranja
escrever na rua
fazer a unha
só andar em ônibus vazio
não beijar
ter uma sombrinha
ter um leque
tomar chá gelado com mel
vomitar quando cheia
só dormir em cama de casal
tomar anticoncepcional
esquecer meu primeiro amor
ir ao dentista
aprender a dizer não
não deixar nada para última hora
não comer por impulso
tomar café preto
estar sempre atenta
dormir por um dia inteiro
soprar tão forte que os carros voassem quando eu atravessasse a rua no horário de pico

9 comentários

  1. Oii Gabi!
    Gostei muito das variações de verbo, às vezes a gente se apega muito em ter ou ser... tem tantas outras coisas, né? amei muito o poema-listinha :)
    bjos da bia ex-tartaruga-astronauta

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    1. siiim! pensei muito sobre isso enquanto anotava mentalmente o que eu deveria. feliz demais em saber que ainda passa por aqui bia :) bjss

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  2. Seu poema muito me fez perceber que eu gostaria (e deveria) fazer diversas coisas dessa lista também, me sinto frustrada do quanto de coisas que de vez em quando penso que deveria fazer e não fiz, ou não tem como fazer, no momento, eu gostaria que me sobrasse dinheiro para tirar habilitação... talvez devêssemos aproveitar que é fim de ano e fazer um clichê, transformando algumas coisas dessa lista-poema em resoluções de ano novo, quem sabe!

    Abraços,
    Bia

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    1. talvez, o intuito dessa lista é meio que pensar que existem mil coisas eu deveria fazer. algumas porque quero, preciso outras porque é me imposto e acabo levando isso como uma obrigação. e ela seria ainda maior se eu fosse para o lado das coisas abstratas.... enfim, nos sempre devemos algo a alguém, que as vezes somos nós mesmos. alguma coisa sobre pensar demais enquanto se anda na rua.

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  3. dos momentos em que nos questionamos tanto sobre... tanto.
    da falta de coragem de fazer o que gostaríamos.
    do desânimo de fazer o que deveríamos.
    e dos desinteresses também.
    tuas palavras sempre me inspiram demais a pensar, eu gosto muitoo ☆.☆

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    1. obrigada any! fico contente em saber que é inspirador a alguém, porque é assim que me sinto quando leio poesia ou qualquer coisa me encante. e é bom passar isso, como numa brincadeira passa anel onde a gente nunca sabe quem vai receber a coisa preciosa.

      ai foram alguns devaneios de um dia voltando para casa do estágio, de como eu sempre me cobro por algo ou o mundo espera algo que acabo levando super pra mim, mas não é por não fazer/ter/verbos que as coisas não acontecem e tudo. uma hora é a hora.

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  4. graças a ti fui pesquisar e descobri o que significa prolixo. gostei ☆ do prolixo e de ler os teus escritos

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    1. que ótimo! eu também me senti na obrigação de pesquisar o que era no exato instante que escrevi afirmando não saber. e eu não sou prolixa, talvez por isso essa infamiliaridade. talvez devesse me passar em alguns pontos.

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  5. Gabriela! Li essa poesia um dia desses e por algum motivo só pensei em escrever que sempre gosto muito de te ler e não escrevi, tem alguma coisa no jeito como você escreve e relaciona as coisas que sempre me deixa pensando de um jeito um pouco engraçado, mas não engraçado do jeito risadinha e sim engraçado do jeito diferente e um pouco risadinha sim de vez em quando. Enfim, fim da mensagem!

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