Ela tem a idade da minha mãe e escreve coisas absurdas, violentas e engraçadíssimas. Trocando emails com Igor, o editor de uma zine que acompanho e participo regularmente, mando esse poema e outros, que são como uma colagem, perguntando se devo manter ou não as referências. Ele responde dizendo que gosta da ideia de manter as referências, que lembra um exercício de uma oficina de poesia via email que fez e o envia junto:
E se hoje você abrisse mão da ideia de que escrever
é a ação de preencher um arquivo em branco?
Neste primeiro exercício simples, comece a pensar a produção a partir de algo que já existe. Roube as conversas de pessoas ao seu redor. Transcreva uma cena da novela que seu avô assistia. Substitua a caneta por tesoura e cola. Faça um corte na sua rotina. Você pode versificar tudo exatamente como foi dito, inspirando-se em Ana Luiza Rigueto, ou justapor frases de origens diferentes para criar diálogos desconfortáveis, como Verônica Stigger. Se a ironia parece um caminho mais interessante, talvez você tenha mais proximidade com Wisława Szymborska, e combine ideias diferentes na busca de novos significados ou acontecimentos.
✭
E isso foi em setembro de 2024. Eu pesquisei cada nome citado e achei esse segredo da poesia que fazia tanto sentido comigo. Com conversas alheias anotadas em segredo durante uma viagem de ônibus, frases soltas que ouvia na rua e sempre repetia e ria muito com os amigos e o intertexto que resultava em alguns escritos. A minha favorita da lista foi Veronica, conexão instantânea! (Ela também é gaúcha.) Rapidamente achei Delírio Damasco, um livro curto de poeminhas de 3 linhas, só com coisas que ela escutou por ai. Comecei a fazer o meu próprio arquivo de conversas roubadas.
Li também O Coração dos Homens, e ela já estava na minha lista de escritoras favoritas. Ficou ainda melhor quando na livraria perto de onde trabalho achei o livro, O Sul, onde saiu o poema e descobri que depois do poema tem uma parte com folhas lacradas com o título, A Verdade Sobre o Coração dos Homens. O livro novo era uma fortuna e dei sorte quando encontrei o mesmo no sebo, do outro lado da livraria e ainda com as páginas lacrados por R$ 20,00. Com as mãos abri delicadamente o picote: ali outro poema que explicava o que era mentira e o que era um cruzamento de fatos do poema principal.
A poesia é a parte meiga da escrita de Veronica, os contos muitas vezes me deixam agoniada, aterrorizada, enojada, imoral, desmaiada na realidade do mundo, com a cabeça aberta e com muita vontade de rir fazendo uma cara feia.
Como disse da última vez, Os Anões, foi um livro que chegou ate mim pelas forças do destino. E assim como Delírio Damasco e O Coração dos Homens, eu fiz todos ao meu redor lerem. Agora, meu objetivo é fazer uma adaptação cinematográfica B do conto Ceia, que já foi lido em voz alta por diversos amigos meus. Ana Banana será Joana, Freak Franco: Juan, Gordo Celso: Jean, Chico: está em aberto, talvez Matheus, namorado de Nicoli e o garçom é Carlos. Vamos filmar no Beverly Hills, restaurante do pai do Carlos, Pedro vai ajudar com o roteiro e produção e Thomaz vai fazer os efeitos especiais já que ele quase sabe assobiar com os dedos na boca.
Gran Cabaret Demenzial é minha última aquisição, comprei também no sebo mas dessa vez no Bom Fim, do outro lado do parque. Esse é Anões são da Cosac Naify, mas todas as edições são muito bem pensadas e bonitas. Ainda não terminei de ler pois estou guardando e gosto de ler pela manhã quando tem bastante sol no quarto.
Desde que comecei com tudo isso tenho imaginado e pensado em coisas muito absurdas e porque elas parecem tão distantes. Ontem assisti uma peça chamada A Cantora Careca, clássica do teatro do absurdo, coisa que descobri ontem também que era um movimento muito famoso e fez muito sentido com outras que já havia visto. Esse texto sem sentido e divertido que diz muito de forma tão maluca e inventiva. A patafísica. O esdrúxulo. A poesia. A vida.




Ahhh que massa! Eu fiquei super interessada na Verônica e seus escritos! Já estou procurando os livros dela pra ler também. Obrigada pelo relato.
ResponderExcluirEu vi que vc faz zines. Eu to ingressando nesse mundo aos poucos e quero muito conhecer zines novas. Eu fiz uma com algumas das minhas colagens, poderia te mandar? Também sou gaúcha de Porto Alegre.
que maravilha!! o texto está cheio de links escondidos que levam para alguns poemas e livros.
Excluirclaro, iria adorar receber!! gabrieladadda@gmail.com é meu email, pode me mandar por lá ou se preferir trocar ou algo assim podemos combinar por ali também 💌
O seu post me fez pesquisar sobre a Verônica!
ResponderExcluirnão vai se arrepender!!
ExcluirNão conhecia a autora, mas achei bem legal todo o post. Te acho muito original Gabes!
ResponderExcluirAh, e respondendo a sua pergunta de meses atrás lá no blog kkkk, eu assito muitos filmes baixados pelo torrent, tenho salvos alguns bons sites pra baixar, se quiser posso te enviar ;)
https://www.heyimwiththeband.com.br/