043: registros intensos dos primeiros dias de volta

Agora faz duas semanas que voltei para Porto Alegre. Eu não consigo manter uma rotina morna, repetitiva, circular. Quando era criança passava muito tempo sozinha absorta, pensava muito em como era ter uma vida de amigos de pracinha e encrencas e aventuras e de como todos os meus dias eram iguais: acordar, escola, casa... De vez em quando eu ia na casa de algum colega ou vice-versa, meus pais organizavam viagens e passeios em família, visitávamos a minha avó. Essa foi uma parte extensa da minha infância no Ensino Fundamental I. 

Desde que voltei não tenho parado muito em casa. Quase nunca vejo minha prima porque (evito) temos rotinas muito diferentes, quando levanto, mesmo que cedo, ela ja saiu para o trabalho e quando volto, tarde, ela já esta dormindo. Gosto disso porque é como se morasse sozinha, o que ando desejando muito. Esses dias ela me disse que não anda bem e como resposta voltei a fazer convites para coisas que ela nunca vai. 

13 de janeiro
Segunda-feira

Meu pai me trouxe de carro, almoçamos no buffet livre. Montagem de exposição no estágio, pintei um aparador de branco e uma parede de preto fosco, é a primeira vez que me pedem para pintar algo e espero que seja a ultima. Encontrei Joana e Juan para conversarmos, tomamos milkshake e sentamos na Alfândega e depois na Praça da Matriz. Fomos ao mercado, eu não tinha nada em casa e comprar grandes coisas pensando no futuro me deixa estressada. Juan ficou ate mais tarde na minha casa e ficamos conversando sobre muitas coisas. 


14 de janeiro
Terça-feira

Trabalhei apenas de manhã. Acompanhei o transporte da maquete da Casa de Cultura, que estragou por causa das enchentes, ate o Museu de Arte do Rio Grande do Sul, onde eles estão restaurando e tratando muitas obras que sofreram com tudo isso. Conheci a restauradora, Isis, que é da Bahia mas já mora aqui desde 2017. Nos subimos até a sala de restauro que fica em uma das cúpulas. Ela me deixou subir no segundo andar da cúpula, que é so uma sala vazia com quatro sacadas, uma em cada lado e perguntou se eu queria que ela tirasse uma foto minha ali.  

Começaram a pintar a entrada do meu prédio. 

Gustavo voltou para a cidade, ele estava caindo em blues depois de um ano. Pedro e eu fomos lá no final da tarde tomar café. Pedro levou um bolo que tinha calda de glacê e jogamos escova. Eu sentia falta de jogar escova, foi Gustavo que me ensinou, quando passei uma semana na praia com a família dele uns anos atrás e sempre me lembra quando passei com meus primos um ano antes disso. Nos entramos e analisamos rapidamente todos os quartos (2) dos primos dele, que moram ali também, e eu fotografei tudo para usar no futuro. 

Convenci eles de irem a feira da terça-feira que fica entre nossos apartamentos. Pedro comprou um pastel que demorou muito, ele era o número 1006. Ele sempre quis experimentar o pastel dessa banca mas ela estava sempre muito cheia para tentar, lá eles vendem uma cuca de creme de avelã muito boa. Eu comprei R$ 7,00 de queijo fatiado e só. 

Deixei as coisas em casa e voltei para Casa de Cultura, eu e Joana iriamos ir de carro junto com o Thomaz para a Listening Party do album do Juan. A Listening Party aconteceu na Praça Alim Pedro no bairro dos operários, eu e Joana nunca tínhamos ido lá mas ouvíamos o tempo todo sobre como era incrível. Foi onde a Elis Regina nasceu e morou enquanto estava aqui. Juan esta morando lá por enquanto, na casa de outro Pedro e do Jean. O banheiro deles é rosa e mimoso. Eu fotografei o quarto do Jean, não vimos o quarto de Pedro e o Juan tem dormido na sala. Eles já receberam a Sophia Chablau lá. Eu tinha levado pão e café solúvel que Juan tinha esquecido na minha casa no dia anterior.

Assim que todos chegaram fomos a praça, conversamos um pouco, sentamos em uns tocos de tronco e  ouvimos o album inteiro. A audição consistia em levar os próprios fones de ouvido e todo mundo dar play ao mesmo tempo. Deu certo. O escurecer da noite, todo mundo em silêncio prestando atenção, a grama selvagem, as árvores, tudo era a atmosfera perfeita para as músicas cheias de eco, introspecção e poesia. No final do ano passado, Juan tinha falado que começou a ouvir toda discografia do Bowie em ordem, e quando terminasse algo grande seria revelado. Ele já tinha terminado e a musica favorita dele não foi grande coisa para mim. Comemos no Flashback.

Retornamos a casa deles e assistimos o inicio de Joe e as baratas, um filme que marcou a infância de Jean. 

15 de janeiro
Quarta-feira

Joana me falou que não gosta de se desdobrar em mil coisas já eu, não sei fazer diferente. Pedi para sair mais cedo do estágio para assistir a apresentação do trabalho de conclusão de curso do Victor, nos organizamos um projeto de vídeos juntos e eu não o via desde nossa ultima reunião. Roubaram o celular dele mas eu havia esquecido disso, e convite chegou pelo Nazú. Era sobre coletivos e cineastas indígenas. Então eu voltei para uma reunião com Jean no Café Mal Assombrado e pensamos em como organizar uma feira que acontecerá lá em breve. Eu pedi um papel para fazer um mapa e ele me passou um caderno novíssimo sem pautas, muito chique com capa vermelha que foi roubado de um duty free na Europa e dizia ser feito na Itália. 

16 de janeiro
Quinta-feira

Abertura da exposição de colegas na Casa de Cultura. Vimos o Léo em um encontro. Tinha um drink de cachaça, limão e maracujá que acabou rapidinho. Lembrei de pegar o Champagne que tinha ganhado de ano novo e esquecido desde então, tomamos nas mesas da rua em um bar ali perto junto com vários petiscos. Joana, Rafael, Luciana, Paula e Vitor, que eu não via desde o final das aulas, muito rever todos! Eu amo muito meus amigos e colegas que fiz na universidade! 

17 de janeiro
Sexta-feira

Trabalho de conclusão de curso da Jéssica. Era sobre a família e os cães dela, foi acolhedor! A Pinacoteca estava cheia de pinturas de momentos íntimos da família, o pai dela dormindo no sofá com o cachorro, mesas de churrasco, a mãe tricotando... Para completar uma mesa cheia: cuca de goiabada, bolo de cenoura com cobertura de chocolate, pão caseiro fofinho e com a casca brilhante de manteiga, frios, salame, requeijão, geleia, refrigerante, água, cerveja e salsichão com farofa, tudo disposto em cima da toalha que exibia a pintura da chegada da nova sobrinha de Jéssica a família. Foi emocionante!

Já bem tarde eu e Joana saímos, passamos no apartamento dela para pegar as coisas. Era noite do pijama. Depois nos arrumamos na minha casa e encontramos Juan, Jean, o outro Pedro, Carlos... no La Furia, um bar muito apertado perto de casa. Ficamos conversando até de madrugada, na volta para casa tomei outro banho pois esta muito calor aqui. Joana dormiu na sala e Juan dormiu no cama da minha prima, acho que ela não percebeu pois deixamos tudo como estava. 


18 de janeiro
Sábado

Fomos todos a feira. Comprei frutas, legumes e ovos. Juan fez o almoço, uma especialidade que ele chama de Frango Ying Yang. Estava bom, não sobrou nada. Ele me mostrou o kazoo, um instrumental de metal que quando se fala fica um som engraçado. Júlio trouxe de presente pra ele da Irlanda. Júlio e Louise estão morando lá desde ano passado por conta do emprego dele. 

Visita ao ateliê do Leonardo Lopes. É uma sala gigante, ampla, com janelas imensas que dão para o centro histórico. Por ser final de semana estava muito silencioso. Conversamos muito e experimentamos os bastões de giz que ele mesmo faz a partir de queimas de materais, que depois são representados nos desenhos. 

Conversei com José e terminamos como amigos, assim como eu desejava. 


19 de janeiro
Domingo

Convidei Joana e Juan para o show de jazz gratuito que teria hoje no Araújo Vianna. Estamos todos em um ritmo de jazz ultimamente e nenhum de nós tinha ido no Araújo Vianna. Antes de tudo eles participaram de campeonato de sinuca do La Furia, perderam uma, ganharam uma e desistiram na terceira vez pois já estava na hora do show e todos que iam conosco já tinham chego. Sentamos no lado direito não muito na frente porque Pedro disse que o som fica ruim lá, o melhor e sentar na linha do engenheiro de som ou algo assim. Tudo lá era caro. Os shows foram incríveis, o primeiro como se imagina o jazz e o segundo era com o Renato Borghetti, famoso por tocar gaita e pai de uma colega nossa. Jantamos no Beco do Gato, tinha promoção de kaftas, pague 1 leve 2. Pedro nos deixou em casa de carro. 

20 de janeiro
Segunda-feira

Chegou minha handy-cam que comprei usada na internet. 

21 de janeiro
Terça-feira

Abertura na Pinacoteca Rubem Berta, resultado de uma aula que fiz também em outro semestre assim como a outra. Essa era de acervo, ao contrário da outra. Também tinha show de jazz mas meio bossa nova. No estágio comecei uma pesquisa sobre a Elis Regina pois vamos fazer um especial dos 80 anos dela. Li toda uma revista de fofocas especial biografias. Vi o Victor pela primeira vez depois da apresentação. Pensei sobre como a palavra avião vem de ave. Esses pensamentos repentinos de origens de palavras comuns é um passatempo incontrolável que adoro, só aparece de vez em quando. 

Thomaz nos convenceu a ir no Xis da Bruxa que fica do outro lado da cidade, perto da casa dele e de frente ao Pito. Ficamos um pouco no Pito mas estava difícil de conversar e eles eram muito altos. 


22 de janeiro
Quarta-feira

Assisti Nosferatu com Miguel e Gustavo. O filme é chatinho, esperava que tudo fosse mais, mais assustador, mais bonito, mais erótico, mais sombrio...

23 de janeiro

Quinta-feira

Corremos, eu e Vitor. Joana desistiu em cima da hora. Paula acompanhou o percurso de bicicleta porque correr não é para ela, ela disse. Encontrei Léo e Ícaro na corrida. Ao final estava mole, quente e sedenta. Foi incrível! Vitor nos falou sobre o arco-íris de fogo que tinha visto hoje. Eu, Léo e Ícaro voltamos pela orla, a noite estava agradável. 

24 de janeiro

Sexta-feira

Começou a acabar a comida e só vou comprar mais quando voltar. Trabalhei de manhã, continuei as pesquisas sobre Elis. Ouvi muita música dela que nunca tinha ouvido e também a estreia da nova da banda do Juan com Pedro e mais umas pessoas que não conheço muito bem. Almocei yakisoba com frango e já era 13h. Escrevi tudo isso em silêncio. Arrumei minhas coisas e as 16h fui para o apartamento do Gustavo porque íamos de carona com o Renan para Osório. Comemos brigadeiros que a tia do Gustavo fez, jogamos escova e esperamos o Renan que demorou bem mais de 15 minutos. Agora já são quase 19h, o trânsito está parado e acabamos de passar pela arena. Minha mãe disse quando chegar vamos comemorar porque meu irmão teve o primeiro dia de trabalho hoje, depois de todo esse tempo sabático e vagabundo. Eu tirei A em todas as cadeiras e estou morrendo de fome.

Nenhum comentário

Postar um comentário