034: chove chuva chove sem parar

@gabsgabisgabes

Estou quase de férias. Ainda sobre a aula de laboratório de texto tenho esse ultimo trabalho: tecido de citações. Com base no texto O que é um autor, de Roland Barthes, e da declaração de Sherrie Levine sobre sua produção em 1982, preciso criar um texto-colagem, com base em textos de outros autores, sobre meu trabalho, pesquisa ou atuação. Estou animada mas não sei para onde quero ir e nem de onde partir. Estou em casa, não em Porto Alegre, e chove desde que cheguei. Anotei esses trechos que grifei quando li Morangos Mofados:

"Cada coisa era cada coisa e inteira, na união de todas as suas infinitas partes. Mas e as sombras e os reflexos, esses que não se integravam em forma alguma, onde ficavam guardados? Para onde ia a parte das coisas que não cabia na própria coisa? Para o fundo do meu olho, esperando o ofuscamento para vir à tona outra vez? Ou entre as próprias coisas-coisas, no espaço vazio entre o fim de uma parte e o começo de outra pequena parte da coisa inteira? Como um por trás do real, feito espírito de sombra ou luz, claro-escuro escondido no mais de-dentro de um tronco de árvore ou no espaço entre um tijolo e outro ou no meio de dois fiapos de nuvem, onde?"
"Proibido sentimentos, passear sentimentos, passear sentimentos desesperados de cabeça para baixo, proibido emoções cálidas, angústias fúteis, fantasias mórbidas e memórias inúteis, um nirvana da bayer e se é bayer."
"Tão geladas as pernas e os braços e a cara que pensei em abrir a garrafa para beber um gole, mas não queria chegar na casa dele meio bêbado, hálito fedendo, não queria que ele pensasse que eu andava bebendo, e eu andava, todo dia um bom pretexto, e fui pensando também que ele ia pensar que eu andava sem dinheiro, chegando a pé naquela chuva toda, e eu andava, estômago dolorido de fome, e eu não queria que ele pensasse que eu andava insone, e eu andava, roxas olheiras, teria que ter cuidado com o lábio inferior ao sorrir, se sorrisse, e quase certamente sim, quando o encontrasse, para que não visse o dente quebrado e pensasse que eu andava relaxando, sem ir ao dentista, e eu andava, e tudo que eu andava fazendo e sendo eu não queria que ele visse nem soubesse, mas depois de pensar isso me deu um desgosto porque fui percebendo, por dentro da chuva, que talvez eu não quisesse que ele soubesse que eu era eu, e eu era."
Talvez objetivos talvez coisas:
⭐ Não ter medo e angústia em falar
⭐ Terminar 
⭐ Gritar
⭐ Correr
⭐ Escutar

Indicações:
⭐ Chorona, de Julia Caus Falce. Zine muito bonita, sensível e leitura obrigatória!!! Tem contribuições minhas :)
Eu destruirei vocês, de Isabela Thomé. Uma newsletter (que são os novos blogs) muito divertida e criativa, é impossível não sorrir enquanto lê.


Filmes que assisti essa semana:
The strange thing about the Johnsons (2011) nojento, estranho, não pretendo rever. 
⭐ The edge of seventeen (2016) já tentei assistir esse filme mais de duas vezes mas nunca lembro que já (quase) vi. Ele ta em todas as listas de filmes que gosto mas mesmo assim esse não me prendeu. 
⭐ Pearl (2022) esperava mais sangue e cenas chocante! É bonito e eu gostei, adoro slasher. 
La Chambre (1972) tenho um sonho intelectual bobo que é assistir a todos os filmes da Chantal Akerman, Agnès Varda e Vera Chytilová, mesmo que sofra. Nesse é documentado o quarto de Chantal em 360º. Achei que aconteceria algo aterrorizante. 
⭐ Efeito Borboleta (2004) não sei porque comecei a ver mas, não me arrependi. É mais pesado do que poderia imaginar e menos chato também, me lembrou o filme Questão de Tempo e IA (que detesto!). Ana, minha prima fã de dramas românticos, adorou.
⭐ Shiva Baby (2020) interessante, caótico, me senti numa festa de familia de verdade. Me fez pensar naqueles momentos quando estou em um evento e não sei o que fazer, falar com alguém? Sobre o que? Procurar algo? Como não parecer perdida? 
⭐ Talk to me (2023) assisti por acaso logo depois de ver Um homem com uma câmera, no cinema do shopping, sessão das 21h. Me passaram a sinopse quando já estavamos nas poltronas e a sala escura. É um filme de espirítios e demonios que realmente dá medo!!! O final é divertido, lembrou até um pouco de Morte Morte Morte e deixa as coisas leves para dormir dsofkdpsofkk Minha cena favorita é quando filmam o canto do quarto e sai uma coisa de lá, é um medo que me assombra.
⭐ Um homem com uma câmera (1929) assisti na Sala Redenção, é parte da Mostra Cinema de Vanguarda, um projeto da cadeira com o mesmo nome. No fim uns colegas explicaram um pouco e também falaram do knokismo, o cinema puro. É o cotiadiano sem intervenções da época. 
⭐ Street Trash (1987) sujo, imundo, terrível e eu tenho até vergonha de dizer que ri algumas vezes.

4 comentários

  1. eu sempre visitio seu blog mas sempre tive medo de comentar hahahahahhahaah eu acho muito incrivel seu estilo de vida e tals.

    já vi The strange thing about the Johnsons e de fato é algo desconfortante, eu não esperava aquele enredo, ari aster é bom em fazer a gente assistir filmes com temáticas 'familia' muito bizarras, 'hereditario' e 'beau tem medo' tá ai pra provar.
    La Chambre me faz lembrar filmes com uma pegada underground e um pouco surrealista, recomendo o sanatório clepsidra de 73, você começa sem entender nada, e termina do mesmo jeito que começou, só que vc estranhamente gosta.

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    1. obrigada pela indicação, vou já anotei para ver!! la chambre é realmente um filme underground sodojfis é uma das primeiras produções da chantal, e pelo que já vi todas as coisas delas são bem maluquinhas, vanguarda... gosto muito!

      fico feliz que teve coragem de comentar dessa vez, espero que esse medo tenha ido embora pra todo sempre!!! xô medoss

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  2. adoro a sensação única de ler seu blog. não sei explicar, mas gosto muito de como te ler é simples c:
    sujo, imundo, terrível e eu tenho até vergonha de dizer que gosto (eu, sobre muitas coisas)

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    1. muuito obrigada! eu tenho a impressão que muitas vezes é um porre ler o que escrevo, ate eu mesma não leio de novo ou reviso... obrigada de coração!!
      concordo sobre essa ultima frase

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